segunda-feira, 23 de junho de 2008

Pequenas lições de desespero




Distância

Nada guardo salvo o corpo
que me guarda
Perdi as malas
metafísicas

Falta-me tempo para olhar
para trás


Deixem-me agora
seguir a sombra de algum vôo incerto
ouvir o vento à beira das falésias
nadar correr
correr
entre clones surfistas políticos
liberais e intelectuais
boçais
Fim de festa fim de ano fim do mundo
antigo


Sem memória vou
a caminho do que vem
a caminho.


Arnaldo Saraiva

sexta-feira, 20 de junho de 2008

El jardín

Tener un jardín, es dejarse tener por él y su
eterno movimiento de partida. Flores, semillas y
plantas mueren para siempre o se renuevan. Hay
poda y hay momentos, en el ocaso dulce de una
tarde de verano, para verlo excediéndose de sí,
mientras la sombra de su caída anuncia
en el macizo fulgor de marzo, o en el dormir
sin sueño del sujeto cuando muere, mientras
la especie que lo contiene no cesa de forjarse.
El jardín exige, a su jardinera verlo morir.
Demanda su mano que recorte y modifique
la tierra desnuda, dada vuelta en los canteros
bajo la noche helada. El jardín mata
y pide ser muerto para ser jardín. Pero hacer
gestos correctos en el lugar errado,
disuelve la ecuación, descubre el páramo.
Amor reclamado en diferencia como
cielo azul oscuro contra la pena. Gota
regia de la tormenta en cuyo abrazo llegas
a la orilla más lejana. I wish you
were here, amor, pero sos, jardinera y no
jardín. Desenterraste mi corazón de tu cantero.

diana bellessi

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vende-se

Vende-se uma alma. Passou por somente 3 encarnações: foi um padre corrupto na idade média, uma prostituta apaixonada no século 18 e hoje é um estudante de ciências sociais. Estado de conservação moderado, sem crenças definidas e com vícios remediáveis, possui pequenos problemas de moralidade e de bom senso. É acompanhada de uma boa quantidade de humor (de gosto um pouco suspeito) e com uma pitadinha de ironia. Ao contrário do que parece, é uma alma pouco usada, que deixa as convenções cotidianas fluírem as escolhas.
Aceito diversas formas de pagamento: cartões, dinheiro e financiamento junto aos bancos (não trabalho com cheques). Aposentados e pensionistas podem optar por débito em folha.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Espírito amarelo

Um espírito amarelo me perturba... um espírito com olhos de verdade, de carne (ou seja lá de que os olhos sejam feitos).
Malditos olhos, deveriam me mostrar respostas e resolver problemas, mas não, só me trazem mais confusão.

Meus olhos são gentis e vêem beleza em tudo, e acabam comigo em desejo.

O espírito amarelo tem olhos que me olham, e que eu insisto em olhar também.

Não olharei mais para olhos, olharei bocas que dizem poucas verdades, o que torna fácil não dar atenção e só admirar a beleza. Mas olhos... não deveriam dizer nada, e talvez por isso não mintam, e acabem comigo. A partir de hoje só olharei bocas...

Deveria ser à moda de ayê, mas já é um começo!

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