segunda-feira, 7 de julho de 2008

Secretário dos Amantes

I

Acabei de jantar um excelente jantar
116 francos
Quarto 120 francos com água encanada
Chauffage central
Vês que estou bem de finanças
Beijos e coices de amor

...

V

Que alegria teu rádio
Fiquei tão contente
Que fui à missa
Na igreja toda gente me olhava
Ando desperdiçando beleza
Longe de ti

...

VI

Que distância!
Não choro
Porque meus olhos ficam feios

oswald

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Se me esfolassem agora
encontrariam o teu nome
colado num dos meus ossos
De mim, continuariam a nada entender.
Quanto a eu, sei que sou teu.

manuel cintra

The Best Thing For You

-

I only want what's the best thing for you
And the best thing for you would be me
I've been convinced
After thinking it through that the best thing for you would be me

Everyday to myself I'd say point the way
What would it be?
I ask myself what's the best thing for you
And myself and I seem to agree
That the best thing for you would be me

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Pequenas lições de desespero




Distância

Nada guardo salvo o corpo
que me guarda
Perdi as malas
metafísicas

Falta-me tempo para olhar
para trás


Deixem-me agora
seguir a sombra de algum vôo incerto
ouvir o vento à beira das falésias
nadar correr
correr
entre clones surfistas políticos
liberais e intelectuais
boçais
Fim de festa fim de ano fim do mundo
antigo


Sem memória vou
a caminho do que vem
a caminho.


Arnaldo Saraiva

sexta-feira, 20 de junho de 2008

El jardín

Tener un jardín, es dejarse tener por él y su
eterno movimiento de partida. Flores, semillas y
plantas mueren para siempre o se renuevan. Hay
poda y hay momentos, en el ocaso dulce de una
tarde de verano, para verlo excediéndose de sí,
mientras la sombra de su caída anuncia
en el macizo fulgor de marzo, o en el dormir
sin sueño del sujeto cuando muere, mientras
la especie que lo contiene no cesa de forjarse.
El jardín exige, a su jardinera verlo morir.
Demanda su mano que recorte y modifique
la tierra desnuda, dada vuelta en los canteros
bajo la noche helada. El jardín mata
y pide ser muerto para ser jardín. Pero hacer
gestos correctos en el lugar errado,
disuelve la ecuación, descubre el páramo.
Amor reclamado en diferencia como
cielo azul oscuro contra la pena. Gota
regia de la tormenta en cuyo abrazo llegas
a la orilla más lejana. I wish you
were here, amor, pero sos, jardinera y no
jardín. Desenterraste mi corazón de tu cantero.

diana bellessi

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vende-se

Vende-se uma alma. Passou por somente 3 encarnações: foi um padre corrupto na idade média, uma prostituta apaixonada no século 18 e hoje é um estudante de ciências sociais. Estado de conservação moderado, sem crenças definidas e com vícios remediáveis, possui pequenos problemas de moralidade e de bom senso. É acompanhada de uma boa quantidade de humor (de gosto um pouco suspeito) e com uma pitadinha de ironia. Ao contrário do que parece, é uma alma pouco usada, que deixa as convenções cotidianas fluírem as escolhas.
Aceito diversas formas de pagamento: cartões, dinheiro e financiamento junto aos bancos (não trabalho com cheques). Aposentados e pensionistas podem optar por débito em folha.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Espírito amarelo

Um espírito amarelo me perturba... um espírito com olhos de verdade, de carne (ou seja lá de que os olhos sejam feitos).
Malditos olhos, deveriam me mostrar respostas e resolver problemas, mas não, só me trazem mais confusão.

Meus olhos são gentis e vêem beleza em tudo, e acabam comigo em desejo.

O espírito amarelo tem olhos que me olham, e que eu insisto em olhar também.

Não olharei mais para olhos, olharei bocas que dizem poucas verdades, o que torna fácil não dar atenção e só admirar a beleza. Mas olhos... não deveriam dizer nada, e talvez por isso não mintam, e acabem comigo. A partir de hoje só olharei bocas...

Deveria ser à moda de ayê, mas já é um começo!

-

terça-feira, 27 de maio de 2008

quinta-feira, 15 de maio de 2008

sss

Andava meio carrancudo, só pensando em coisas pouco divertidas. Resolvi mudar, lembrar de falar mais asneiras. Agora pela manhã, faço exercícios faciais para amolecer os músculos da cara.



Procure os seus caminhos,
mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nara

Quase duas da manhã, não tenho sono, coloco Nara Leão pra tocar, ela é linda, e a voz nem se fala. Só Nara cantando baixinho para colocar um marmanjo pra dormir. Sonhando com ela, claro.



Minha mãe, que nasceu perto do mar, sempre me conta que novinha ia caminhar na praia bem cedo, quando os barcos dos pescadores chegam cheios, e nesse vai e vem, ela bonitinha que devia ser, sempre ganhava uma porção de peixes como galanteio. Voltava da praia do mesmo jeito que foi, e claro, mais feliz por já ter conseguido o almoço sem esforço.
Um dia, preto velho me falou: “coração dos outros é terra de ninguém”.
Hoje me disse: “é que nós homens têm as fantasias”.
Preto velho não sabe muitas coisas, mas pisa firme na realidade.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O Freddie Mercury Brasileiro

um pouco mais queimadinho, como convém a um bom brasileiro, e com a mesma força!!!

Se andava no jardim,
Que cheiro de jasmim!
Tão branca do luar!
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Eis tenho-a junto a mim.
Vencida, é minha, enfim,
Após tanto a sonhar...
Por que entristeço assim?...
Não era ela, mas sim
(O que eu quis abraçar),
A hora do jardim...
O aroma de jasmim...
A onda do luar...

camilo pessanha

domingo, 4 de maio de 2008

O cachorro engarrafado

Doralice




Doralice eu bem que lhe disse
Amar é tolice, é bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho
Ao som do lamento do meu violão
Doralice eu bem que lhe disse
Olha essa embrulhada em que vou me meter
Agora amor, Doralice meu bem
Como é que nós vamos fazer?
Um belo dia você me surgiu
Eu quis fugir mas você insistiu
Alguma coisa bem que andava me avisando
Até parece que eu estava adivinhando
Eu bem que não queria me casar contigo
Bem que não queria enfrentar esse perigo Doralice
Agora você tem que me dizer
Como é que nós vamos fazer?

(dorival caymmi e antonio almeida)

sexta-feira, 2 de maio de 2008

E a dor, como a um dono, veio lamber-me

Estávamos a conversar e eu pus-me de gatas
Na linguagem, um arco-íris todo lágrimas e perguntas
Que vinha de chinelos pelo corredor.

Fui contra, aos encontrões
Contra todas as carícias, contra todos os braços suplicantes
Contra todos os pedidos de amor

E a dor, como a um dono, veio lamber-me.

Lançam-se os músculos em brutal oficina

carlos bessa

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Me gustas cuando callas

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

neruda

sábado, 12 de abril de 2008

Doce Mistério da Vida



Minha vida que parece muito calma
Tem segredos que eu não posso revelar
Escondidos bem no fundo de minh'alma
Não transparecem nem sequer em um olhar
Vive sempre conversando à sós comigo
Uma voz eu escuto com fervor
Escolheu meu coração pra seu abrigo
E dele fez um roseiral em flor
A ninguém revelarei o meu segredo
E nem direi quem é o meu amor

terça-feira, 8 de abril de 2008

Moda Do Corajoso

Maria dos meus pecados...
Maria, viola de amor...

Já sei que não tem propósito
Gostar de donas casadas,
Mas quem que pode com o peito!
Amar não é desrespeito,
Meu amor terá seu fim.
Maria há-de ter um fim.

Quem sofre sou eu, que importa
Pros outros meu sofrimento?
Já estou curando a ferida.
Se dando tempo pro tempo
Toda paixão é esquecida.
Maria será esquecida.

Que bonita que ela é!... Não
Me esqueço dela um momento!
Porém não dou cinco meses,
Acabarão as fraquezas
E a paixão será arquivada.
Maria será arquivada.

Por enquanto isso é impossível.
O meu corpo encasquetou
De não gostar senão de uma...
Pois, pra não fazer feiúra,
Meu espírito sublima
O fogo devorador.
Faz da paixão uma prima,
Faz do desejo um bordão,
E encabulado ponteia
A malvadeza do amor.

Maria, viola de amor!...

mário de andrade

quinta-feira, 3 de abril de 2008

terça-feira, 1 de abril de 2008

Beijos mais beijos,
Milhões de beijos preferidos,
Venho de amores com minha amada,
Insaciáveis.

Rosas mais rosas,
Milhões de rosas paulistanas,
Venho de sustos com a minha amiga,
Implacáveis.

Luzes mais luzes,
Luzes perdidas na garoa,
Trago tristezas no peito vivo,
Implacáveis.

Ideais, ideais,
Ideais raivosos do insofrido,
Trago verdades novas na boca,
Insaciáveis.

Jornais, jornais,
Notícias que enchem e esvaziam,
- Me dá uma bomba sem retardamento,
Implacável!

Horas mais horas,
Rio de meu mistério esquivo,
- Me dá violetas pelos meus dedos
Insaciáveis...

mário de andrade

sexta-feira, 21 de março de 2008

Soneto do Só

Depois foi só. O amor era mais nada
Sentiu-se pobre e triste como Jó
Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
Espantado, parou. Depois foi só.

Depois veio a poesia ensimesmada
Em espelhos. Sofreu de fazer dó
Viu a face do Cristo ensangüentada
Da sua, imagem - e orou. Depois foi só.

Depois veio o verão e veio o medo
Desceu de seu castelo até o rochedo
Sobre a noite e do mar lhe veio a voz

A anunciar os anjos sanguinários...
Depois cerrou os olhos solitários
E só então foi totalmente a sós.

vinicius do moraes

terça-feira, 11 de março de 2008

it's yeats

Se eu me vestisse como os anjos
do sol e azuis da noite os tons
das estrelas do céu os arranjos
dos meus planos à luz da meia-luz

colocaria o mundo a teus pés
mas sou pobre e tendo só meus sonhos
quero colocá-los a teus pés
pise com cuidado, são meus sonhos

W. B. Yeats

versão brasileira: Marcos Prado e Thadeu
retirado do blog Palavra de Pantera

Sorte de Hoje

Quando abri o orkut pela manhã:

Sorte de hoje: Uma surpresa agradável está à sua espera

Tenho prestado muito atenção ao atravessar as ruas para não ter a mesma surpresa que a Macabéa

segunda-feira, 10 de março de 2008

Dobrada À Moda Do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo…

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Álvaro de Campos

domingo, 9 de março de 2008

Dia das mulheres

Peter Pan diz: Nós os meninos perdidos somos crianças que foram esquecidas, que por acaso caíram dos carrinhos de bebês de suas babas e que depois de 7 dias, se não forem encontradas, vão para a Terra do Nunca.
Wendy pergunda: Há meninas na Terra do Nunca ?
Peter Pan: Não, meninas são muito inteligentes para cair dos carrinhos de bebês.

terça-feira, 4 de março de 2008

O Início

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhaninha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelos brancos...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Ou então faziam de mim qualquer coisa diferente
E eu não sabia nada do que de mim faziam...
Mas eu não sou um carro, sou diferente,
Mas em que sou realmente diferente nunca me diriam.

Caeiro